30 abril 2009

21 Grams


Tagline: Difference between dead and life
Director: Alejandro González Iñárritu
IMDb: 7.9

Inarritu sempre me fascinou pela forma como escreve e despista o mais atento. O desenrolar em “flashbakcs”, a complexidade do enredo e a estrutura figurativamente em “puzzle”, intrigam o espectador de uma forma que poucos conseguem.
Tal como noutros filmes de Guillermo Arriaga, o enredo inicia-se num acidente. Este accidente irá juntar três destinos: uma mãe que perde as duas filhas e o marido (Naomi Watts), um matemático com uma grave doença cardíaca ( Sean Penn) e um delinquente religioso (Benicio del Toro.) O que sucede ao acidente é devastador.
Um elenco de luxo. Sean Penn é um dos meus actores comtemporâneos preferidos, invariavelmente excelente em cada personagem que interpreta. Ganhei uma admiração ainda maior após ter realizado “Into The Wild”, um grande e injustiçado filme, e também pela interpretação de Harvey Milk, que lhe valeu o Óscar da Academia. Benicio del Toro também mostra mais uma vez o seu talento, tal como já havia provado em “Traffic”. Naomi Watts que conhecia de filmes diferentes deste género como “The Ring”, mostra também as suas capacidades. É necessário recordar a sua performance em “Funny Games”, merecedora de reconhecimento.

Alejandro González Iñárritu, que me conquistou após “Amores Perros”, trata a morte de uma forma diferente e de função, neste caso, iniciadora. A morte, tão inevitável e fugaz, despoleta sentimentos e pensamentos tão intrínsecos que se torna, em casos, passível de transtornar diferentes pessoas, diferentes vidas com diferentes rumos e experiências. É isso que acaba por acontecer. Com uma sensibilidade enorme, Iñarritu realiza um filme sobre a dor causada perante a morte. A forma como este estrutura a fita, é incrível. Várias sequências em paralelo, linhas de tempo distintas, que vão chocando e alternando ao longo do filme. (também visto noutros filmes desta dupla como “Amores Perros” e “Babel”) No entanto, o realizador põe-se também na pele do espectador uma vez que, ao contrário de vários realizadores que se esforçam demasiado para prender o espectador ao “final twist”, este vai relevando várias pistas do puzzle ao longo do filme, possibilitando uma antecipação do final.
Outros dos aspectos que, e passo a expressão, me mantêm sempre à cuca, é a qualidade da fotografia. Filmes que têm uma realização totalmente medíocre, ou um argumento que não capta nem conquista audiências, por vezes são desvalorizados de tal forma que não é feita qualquer referência ao esforço e à qualidade fotográfica. (ou até pelo contrário, filmes muito bons que não primam de nenhuma forma a nível fotográfico.) E este filme, alternando tons azuis e cinzentos, por vezes quase preto e branco, consegue atingir um bom nível fotográfico, suficiente para nenhum espectador esqueça de certas cenas e shots.

O significado de “21 Gramas” é revelado precisamente no final:
“How many lives do we live? How many times do we die? They say we all lose 21 grams... at the exact moment of our death. Everyone. And how much fits into 21 grams? How much is lost? When do we lose 21 grams? How much goes with them? How much is gained? How much is gained? Twenty-one grams. The weight of a stack of five nickels. The weight of a hummingbird. A chocolate bar. How much did 21 grams weigh?”

9/10

Novos Posters de "The Hangover"


Para quem gostar de uma boa comédia, ou de passar um bom bocado, este filme é ideal.

28 abril 2009

Almost Famous



Tagline: Experience it. Enjoy it. Just don't fall for it.
Director: Cameron Crowe
IMDb: 8.0

Cameron Crowe é o realizador de filmes como Jerry Maguire, Vanilla Sky e o mais recente Elizabethtown. Almost Famous, escrito pelo mesmo, é passado nos anos 70, os anos áureos do Rock and Roll, em que bandas como Black Sabbath, The Who, Led Zeppelin, Pink Floyd se revelam e lançam as suas primeiras pistas de sucesso. Retrata também a época consequente à desintegração dos Beatles, em que John Lennon e Paul McCartney lançam-se em carreiras a solo. É também a época em que David Bowie assegura a sua reputação como sólida figura da cultura Pop.
O filme retrata a história de William Miller (Patrick Fugit) , um rapazinho de 15 anos, que é contratado pela revista Rolling Stone para escrever uma reportagem sobre uma banda dos anos 70, Stillwater.

É difícil não reparar na paixão que Cameron transmite neste filme. O que não é dito nem entedido através do filme, é que William Miller na realidade é o alter-ego de Cameron Crowe. Antes de iniciar a sua carreira no cinema, Crowe foi jornalista da revista Rolling Stone e participou em Tours de várias bandas da sua época. É através conexão emocional que Crowe tanspõe para o ecrã com delicadeza e naturalidade a história de William Miller. Lester Bangs, interpretado por Philip Seymour Hoffman, é o mentor de Miller e profere vários conselhos interessantes e curiosos. Num destes momentos Lester Bangs, músico e jornalista da revista Rolling Stone e Creem, mostra profissionalismo e dá a Miller um dos melhores conselhos que pode ser dado a um jornalista: “My advice to you. I know you think those guys are your friends. You wanna be a true friend to them? Be honest, and unmerciful.” Um dos melhores momentos do filme.

Um bom elenco, com Billy Crudup (Dr. Manhattan em Watchmen), Frances McDormand (Burn After Reading), Zooey Deschanel (Yes Man) e Jason Lee (My Name is Earl), fazem as delícias de quem assiste. Mas é Kate Hudson que brilha e demonstra o seu talento e versatilidade. Devo dizer que desconhecia esta faceta de Kate Hudson. A sua personagem é apaixonada, frágil e credível.
O filme é leve, mas não é por isso que passa para uma categoria de “simples entretenimento”. Retrata principalmente uma época que não existe mais, de músicas eternas e efémeras. A banda sonora (excelente) reporta-nos para os anos de ouro do Rock and Roll. Sinceridade, Coração e Homenagem como palavras-chave do filme.

7.5/10

26 abril 2009

Um pouco de qualquer coisa...

Há dias em que parece que tudo corre mal e está tudo contra nós. Para além de facilmente nos irritarmos com o que nos rodeia, simplesmente falta paciência e inspiração, de maneira que o dia se torna monótono e pouco produtivo. Só nos resta aceitarmos que não estamos para nada nem para ninguém e concordar com "A sabedoria de deixar passar a vida placidamente, sem a viver." (Pessoa) Só hoje...
No post de hoje, o Fifeco postou uma curta que ganhou o prémio de "Melhor Ficção" no festival Black&White. (ainda tenho que aprender a por links no texto...Sorry) Lembrei-me de rever duas curtas que apreciei bastante e expô-las aqui, só porque combinam com o estado melancólico e nostálgico em que me encontro hoje.




Notte Sento (English subtitles) from napdan on Vimeo.

24 abril 2009

Eternal Sunshine of the Spotless Mind


Tagline: I already forget how I used to feel about you.

Director: Charlie Kaufman

IMDb: 8.5

Eternal Sunshine of The Spotless Mind é uma autêntica preciosidade do cinema. Indiscutivelmente pertencente ao meu top, e também com as minhas infinitas visualizações, digo sempre sem hesitar que é uma das mais belíssimas e imaculadas fitas de sempre. Escrito por Charlie Kaufman (Being John Malkovich) em cooperação com o realizador francês Michel Gondry, foi galardoado com o Óscar de Melhor Argumento. Michel Gondry é conhecido por Science of Sleep, o mais recente Be Kind Rewind, e já realizou vários videoclips de bandas famosas tais como Radiohead, White Stripes, a sueca Bjork e Beck. Se assistirem a alguns clipes de música pertencentes a Michel Gondry, verão que este é um realizador dotado de uma grande imaginação e sentido de concepção.

Joel (Jim Carey) descobre que a sua namorada Clementine (Kate Winslet) recorreu a uma clínica para apagar as memórias da sua relação amorosa. Revoltado com a situação, Joel decide recorrer ao mesmo procedimento. É durante o mesmo que Joel descobre que ama verdadeiramente Clementine e tenta a todo custo parar o processo e salvar/esconder Clementine na sua memória.

Sem dúvida que o argumento escrito por Charlie Kaufman tem uma certa dose de delírio, no entanto, uma vez que a realização não faz por atenuar esse facto, não eufemizando certos aspectos, criam um filme de realização ágil e extremamente sofisticado. A maneira como este filme poderá chegar às pessoas é através da humanidade que este transparece. Facilmente nos identificamos com o casal Joel e Clementine, imperfeitos e ainda por se descobrirem, com as suas discussões em contraste com momentos sublimes e íntimos. Kaufman faz por não mostrar o produto típico de Hollywood, o bom e o mau, o perfeito e o fútil, mas sim pessoas completamente normais, com as suas falhas e atitudes. Kaufman decidiu escrever antes sobre o homem e a mulher vulgar que se apaixonam e aprendem a viver conjuntamente com os seus defeitos. Outros dos focos deste filme, é a possibilidade de apagar memórias relacionadas com certos aspectos/pessoas da nossa vida. Se houvesse esta possibilidade, até que ponto chegaríamos? Ninguém será dotado de uma resposta verdadeira dizendo que nunca desejou apagar certas recordações sobre alguém, momentos menos bons, momentos de dor e sofrimento. Mas a questão que aqui se levanta é: quais as vantagens? Afinal, as memórias são o que de mais importante nós temos. Memórias não são factos, são pedaços de quem fomos reflectindo o potencial ser que somos e nos poderemos vir a tornar. O ritmo facilmente acompanhado, e também os diálogos imaculados, longe de preconceitos, bastante naturais e pouco forçados são um dos “delights” deste filme. As interpretações são de alto nível, Jim Carey provando outra vez que, mais do que um mero comediante, é um grande actor, Kate Winslet excelente, tal como o resto do elenco integrado por Elijah Wood, Mark Rufallo, Kirsten Dunst e Tom Wilkinson.

Concluindo, Eternal Sunshine of the Spotless Mind é mais do que uma história de amor, é poesia em imagem e som, é tornar (por vezes) literal os pensamentos e os mistérios da mente. Somos tão involuntariamente contagiados por esta história que facilmente nos interrogamos que possuímos alguma memória assim tão má que desejássemos a sua omissão.

Uma curiosidade, o título vem do belíssimo poema “Eloisa to Abelard” de Alexander Pope, mencionado no filme.

“(...) How happy is the blameless vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd; (...)”

10/10

22 abril 2009

Bedtime Stories

Tagline: Whatever they dream up... He has to survive.
Director: Adam Shankman
IMDb: 6.2/10

“HISTÓRIAS PARA ADORMECER é outra inanidade (...) Pode dizer-se que, desta vez, o título faz jus ao filme.”
Manuel Cintra Ferreira, Expresso

Tenho a dizer que estas são as consequências de ir com crianças (quando digo crianças, digo crianças mesmo.) ao cinema. Fui literalmente obrigada a ver este filme, senão haveria sangue, traumatismos e mortos mesmo ali em frente às bilheteiras. Por não querer que tal acontecimento se desse, lá foi a Mafalda ver este filme.
Só vos tenho a dizer: Porquê? Não entendi mesmo a necessidade deste filme! Seja louvada a recessão que provocou uma diminuição nos filmes autorizados, o que permitirá (espero eu) que filmes tão fúteis como este nem cheguem sequer às salas de cinema. Manuel Cintra Ferreira tem toda a razão, é enfadonho e não desperta qualquer interesse. Devo dizer que ainda ia com uma certa esperança que este filme me arrancasse uma gargalhada ou outra - temos pena. Sim, lembram-se de quando Adam Sandler tinha piada? A personagem mais interessante foi, sem dúvida, o porquinho-da-índia Bugsy (acreditem...) que com aqueles olhos esbugalhados e meio louco, fez a plateia rir-se desalmadamente.
No final do filme até meio que percebi a intenção: filme de familía. Mas podiam perfeitamente ter aproveitado algumas personagens e, na minha opinião, criado momentos interessantíssimos.

5/10

20 abril 2009

Camino



Camino foi o filme escolhido para a minha tarde de Páscoa (irónico, sim!) e é, de facto, uma película polémica e bastante séria em relação à sua crítica à Opus Dei, a maior instituição católica de recrutamento actual. Este filme é escrito e realizado por Javier Fesser e ganhou os seis principais prémios Goya, entre eles o de Actriz Revelação para Nerea Camacho, que interpreta Camino.
O filme começa pela morte da menina, mas é então que retrocede 5 meses para mostrar todo o percurso e desenvolvimento da doença. Numa visita ao clube de teatro, no qual sempre desejou entrar, conhece Jesus, o menino com o qual irá fantasiar durante a história. (Quem não viu o filme sugiro que não leia o seguinte parágrafo.)

Já em Pamplona, no local onde iria posteriormente morre, Camino é visitada por padres e freiras, aos quais confidencia que tem um amigo chamado Jesus. Jesus, o menino que inocentemente Camino deseja, é rapidamente visto pela igreja como a figura religiosa. É aqui que se inicia a leitura falsa e a manipulação da história. A igreja inicia a sua missão em tornar a menina um mártir e obriga a mãe abdicar da sua filha em prol da igreja.
A cena final dá-se no quarto de hospital: a morte de Camino presenciada por 20 pessoas, as quais assistem quase como que um show, mesmo aplaudindo nos instantes finais. A cena é toda ela intensa, cruel e chocante e interceptada por trechos e flashbacks que mostram a ilusão da menina, de estar ao pé de Jesus.


A história, baseada em factos reais, tem como intuito provocar a reflexão do espectador de como a igreja distorce e manipula invariavelmente factos reais tornando-os dogmas religiosos. Esta fita não é evidentemente uma sequência de orações e altares, religião e santos, mas uma critica fortíssima à Opus Dei e magistralmente conferida, tal como uma história de amor, ilusão e inocência.

Recomendo fortemente a sua visualização.


8/10

19 abril 2009

True Blood


Do criador de "Six Feet Under", True Blood é a nova série de Alan Ball. À primeira vista, parece mais uma modesta série de vampiros, no seio de um ano já tão cheio de "vampirices" que até assuta. No entanto, True Blood é mais que isso. Na série, os vampiros vivem em "harmonia" com a sociedade, isto é, estão completamente expostos. Apesar das personagens centrais serem o casal romântico da série (como seria de esperar), esta série trata principalmente de como seria se os vampiros coexistissem com os humanos. O livro é excelente e cativou-me principalmente pela seguinte ideia genial: os chineses até criaram Tru Blood, uma bebida que é nada mais nada menos que sangue sintético, servido a 37ºC nos bares locais e com preferência de O negativo, AB positivo... A segunda temporada irá estrear dia 14 de Junho na América e aqui fica o poster:

À primeira vista parece apenas sangue a escorrer, mas se olharem bem é mais que isso. Reparem na parte escura: na realidade é a silhueta de um vampiro a alimentar-se do pescoço de uma senhora.

Edward Scissorhands


Já toda a gente conhece o talento quase infindável deste realizador. Tim Burton, no seu estilo estranho e incomparável, realizou uma das melhores fábulas góticas de sempre, mas foi a divindade e inocência que fizeram este filme um dos melhores do início da década de 90. Sem dúvida que é um filme de peculiar gosto, mas mesmo que não se aprecie a história, não podemos subvalorizar este filme uma vez que é o primeiro que junta Johnny Depp e Tim Burton.
O filme retrata a história de Edward, um jovem criado por um inventor que morre antes de dar mãos ao estranho ser e, por isso, fica com mãos de tesoura. Um dia, uma representante da linha de cosméticos "Avon" conhece-o e decide levá-lo para conhecer a sua familia. é então que Edward conhece Kim (Winona Ryder) e se apaixona por ela.
É impossível não reconhecermos o talento que Johnny Depp transparece neste filme, mostra-se um actor versátil e, principalmente, credível (como veio a provar anos mais tarde). Esta personagem, brilhantemente interpretada, torna-se assim uma das mais interessantes e irregulares personagens clássicas do cinema. Tim burton por si também já havia mostrado o seu lado negro com o filme Beetle Juice, mas neste filme, com um argumento tão lunático apronfunda a trama e conta uma bela história de amor. É a inocência de Edward que prima nesta fita, a sua natureza que o atrai e repele de uma comunidade de casinhas coloridas que não o aceita apenas por ser diferente. Através de Edawrd, com o seu olhar inocente e desamparado, Tim Burton concebe uma sátira social, pela disparidade de reacções que alguém tão diferente provoca numa comunidade. É um filme pouco ambicioso, mas cativa facilmente o espectador que se mostra aberto ao universo de Burton, lunático e negro.
Outros elementos tais como a fotografia (Tom Duffield) e a banda sonora (Danny Elfman- Big Fish, The Nightmare Before Christmas, Charlie and The Chocolate Factory, entre outros.) criam uma fabulosa história, com traços de Frankenstein e A Bela e o Monstro.

8/10